Introdução
Este curso pretende
mostrar alguns princípios teóricos para o entendimento de crianças de
0-6 anos na instituição de Educação Infantil(1), acerca de uma educação
de qualidade, realmente preocupada com a formação integral da criança
enquanto protagonista dos processos de ensino e aprendizagem. Sob esta
perspectiva, focalizamos uma proposta que sugere o não artificialismo
educativo ou uma mera transmissão de atividades sem contextualização
pedagógica. Para que isto ocorra faz-se necessário buscar uma
aprendizagem mais significativa e que supere este artificialismo
educativo no trabalho com crianças visando apenas a assistência aos
cuidados e deixando o educar para responsabilidade do ensino
fundamental; acreditando que a criança precisa ter maturidade para
começar aprender.
Este curso é destinado a educadores que
acreditam que a criança é um ser social e que aprende com o meio através
da ludicidade os conceitos das coisas que a rodeia, e que almejam
mudanças imediatas no contexto mais amplo do sistema educacional
brasileiro referente ao atendimento infantil.
Para isso, partimos da análise dos
referenciais teóricos encontrados(2) sobre o assunto identificando
alguns eixos importantes para nossa reflexão sobre a gestão da educação
infantil no atendimento da criança de 0-6 anos.
Os estudos teóricos que fizemos permitem
refletir sobre os conceitos que estão sendo discutidos no meio
acadêmico recentemente, ajudando-nos a avançar na direção dos objetivos
propostos neste curso.
Acreditamos que a superação da dicotomia
entre educar e cuidar só é possível se acompanhado de uma
conscientização política educacional por parte do educador em relação a
sua formação continuada: ser um profissional(3) reflexivo e aberto a
aprender a aprender no sentido de buscar novas alternativas possíveis na
melhoria da qualidade de ensino.
Fundamentamos este trabalho
principalmente nas idéias e no universo de princípios
político-pedagógicos desenvolvidos por educadores atuais, como podemos
constatar na referência bibliográfica encontrada na última lição.
Pelo próprio caráter deste curso, que
visa mostrar a importância da gestão pedagógica na educação infantil e
que considera a criança um ser em processo constante de aprendizagem e
que nos remetemos a autores que propõem alternativas possíveis a mudança
de postura profissional em um processo de revisão de conceitos já
arraigados pelo próprio histórico da educação infantil no Brasil e
conseqüentemente as teorias e concepções adotadas pelos órgão superiores
no decorrer dos anos.
Tratando-se da aprendizagem integral da
criança, segundo Oliveira (2005): “... já está suficientemente claro,
hoje, que as crianças, desde pequenas, podem avançar no processo de
letramento. A criança nasce em um mundo onde estão presentes sistemas
simbólicos diversos socialmente elaborados. Em especial, ela vive em um
mundo letrado, diferente dos povos primitivos que constituíam sociedades
ágrafas, ou seja, sem escrita. Desde que inserida em um ambiente
propício, ela vai-se apropriando dos principais “canais de notação”
característicos de nossa cultura (...)”. Problematizar o sentido da
Educação Infantil(4) no contexto pedagógico será também uma de nossas
finalidades no decorrer deste curso, cujo produto se constitui de nove
lições: inicialmente, abordamos o histórico da educação infantil e
citamos os principais educadores que contribuíram para a prática do
trabalho nas instituições, numa perspectiva histórica e de
transformações, focalizando o atendimento a crianças de 0-6 anos, de
modo a destacar a implicação das teorias e concepções.
Depois, destacamos os fundamentos legais
para a educação infantil, mostrando as exigências de qualidade
presentes nas diretrizes e nos documentos oficiais que norteiam o
funcionamento de instituições que atendem a criança pequena.
Por fim, discorremos sobre a Gestão da
Educação infantil: do assistencialismo ao pedagógico; rotina versus
educativo; atribuições e competências dos profissionais da educação
infantil e a proposta pedagógica no contexto atual, complementando com o
relato de experiência ocorrido na década de 90 em uma das instituições
mantidas pela Secretaria do Menor.
______
1 A Educação Infantil é a primeira etapa
da Educação Básica e destina-se à criança de zero a seis anos de idade,
não sendo obrigatória, mas um direito a que o Estado tem o dever de
atender (cf. LDB, artigo 29).
2 ver referências bibliográficas
3 Os docentes da Educação Infantil devem
ser formados em cursos de nível superior (licenciatura de graduação
plena), admitida como formação mínima a oferecida em nível médio
(modalidade normal) (cf. LDB, artigo 62).
O docente de Educação Infantil tem a função de educar e cuidar de forma integrada da criança na faixa de zero a seis anos de idade. (MEC,1998)
O docente de Educação Infantil tem a função de educar e cuidar de forma integrada da criança na faixa de zero a seis anos de idade. (MEC,1998)
4 A Educação infantil orienta-se pelos
princípios da educação em geral: igualdade de condições para o acesso e
permanência na escola; liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e
divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber; pluralismo de idéias
e de concepções pedagógicas; respeito à liberdade e apreço à
tolerância; coexistência de instituições públicas e privadas de ensino;
gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais; valorização
do profissional da educação escolar; gestão democrática do ensino
público, na forma da Lei e da legislação dos sistemas de ensino;
garantia de padrão de qualidade; valorização da experiência
extra-escolar; vinculação entre educação escolar e as práticas sociais
(cf. LDB, artigo 3º).
A Trajetória da Educação Infantil no Brasil
Estudos
mostram que até o início da República muito pouco se fazia no Brasil em
relação a criança de 0 a 6 anos. Mudanças sociais e políticas ocorridas
no cenário nacional, a partir dos anos 20 do século XX , impulsionaram
um maior reconhecimento do setor público quanto à importância do
atendimento à criança. A tônica era a medicalização da assistência à
criança até 6 anos; até então a preocupação era apenas o cuidar
fisicamente. Após a década de 1930, a “causa da criança” mobiliza
autoridades oficiais e iniciativas particulares; surgindo a criação de
várias instituições voltadas à criança; desde este período, a história
do atendimento público é constituído de uma rede que envolve diferentes
Ministérios: Saúde, Previdência e Assistência Social e Educação. O
problema da criança é fragmentado e combatido de forma isolada – a
saúde, “bem estar” da família, a educação (resultado: Ninguém é
realmente responsável, uma área de atuação responsabiliza a outra).
Em 1975 é criada a Coordenação de
Educação Pré-escolar (COEPRE) do MEC; cujo objetivo era incentivar as
Secretarias de Educação a criarem as Coordenações voltadas à pré-escola –
a pré-escola é proclamada como solução para os problemas do 1º grau. No
ano de 1979 é comemorado “O Ano Internacional da Criança” e leva a
Temática da infância aos meios de comunicação em massa; nesta época
passa-se a criação oficial do Movimento de luta por creches. (I
Congresso da Mulher Paulista).
No ano de 1981 é lançado o Programa
Nacional de Educação Pré-escolar; com dupla estratégia: primeiro são
realizados convênios entre as Secretarias Estaduais de Educação e MEC/
COEPRE, com a prioridade de expandir a pré-escola – baixo custo, grandes
espaços (100 e 120 crianças), utilizando mães voluntárias; e o segundo o
MOBRAL5 que é 5 MOBRAL MOVIMENTO BRASILEIRO DE ALFABETIZAÇÃO
“convidado” a integrar o Programa Nacional, realizando atendimento ao
pré. Durante os anos de 1981/1982 a educação pré-escolar se torna o
programa prioritário do MEC e do MOBRAL.
A Partir de 1982, das eleições
municipais e estaduais diversificaram-se as políticas mas não se destina
recursos humanos e financeiros necessários para uma atuação de
qualidade. O MOBRAL é extinto em 1985 e é criada a Fundação Educar
(atende apenas adultos); a préescola é transferida para a Secretaria de
Ensino do 1º e 2º graus (SEPS). Em 1987 é extinta a COEPRE. O Programa
Pré-escolar passa a ser coordenado pela Secretaria de ensino básico do
MEC, inserido no setor de ensino de 1º grau e supletivo. Com a
Constituição Brasileira de 1988, há o intenso debate sobre a educação
pré-escolar.
Com a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional) nº 9394 de 1996, a legislação nacional passa a
reconhecer que as creches e pré-escola, para crianças de 0 a 6 anos, são
parte do sistema educacional – 1ª etapa da educação básica. Deixa a
cargo dos Municípios e Estados a responsabilidade pela inclusão e
transformação do sistema.
Percebe-se no decorrer estes anos que as
instituições de educação infantil vem sofrendo significativas
transformações decorrentes de um conjunto de fatores:
- A intensificação da urbanização.
- A participação da mulher no mercado de trabalho.
- As modificações na organização e estrutura familiar.
- O processo de redemocratização.
- A participação da mulher no mercado de trabalho.
- As modificações na organização e estrutura familiar.
- O processo de redemocratização.
A história da educação infantil em nosso
país tem, de certa forma, acompanhado a história dessa área no mundo,
havendo, é claro, características que lhe são próprias. Até meados do
século XIX, o atendimento de crianças pequenas infantis praticamente não
existia no Brasil. No meio rural, onde residia a maior parte da
população do país na época, famílias de fazendeiros assumiam o cuidado
das inúmeras crianças órfãs ou abandonadas, geralmente frutos da
exploração sexual da mulher negra e índia pelo senhor branco. Já na zona
urbana, bebês abandonados pelas mães, por vezes filhos ilegítimos de
moças pertencentes a famílias com prestígio social, eram recolhidos nas
“rodas de expostos” existentes em algumas cidades desde o início do
século XVIII.
Essa situação vai se modificar um pouco a
partir da segunda metade do século XIX, período da abolição da
escravatura no país, quando se acentua a migração para a zona urbana das
grandes cidades e surgem condições para certo desenvolvimento cultural e
tecnológico e para a proclamação da República como forma de governo.
A idéia de “jardim-de-infância”,
todavia, gerou muitos debates entre os políticos da época; muitos a
criticavam por identificá-la com as salas de asilo francesas, entendidas
como locais de mera guarda das crianças. Outros a defendiam por
acreditarem que trariam vantagens para o desenvolvimento infantil, sob a
influência dos escolanovistas. O cerne da polêmica era a argumentação
de que, se os jardins-de-infância tinham objetivos de caridade e
destinavam-se aos mais pobres, não deveriam ser mantidos pelo poder
público.
Na Exposição Pedagógica, realizada em
1885 no Rio de Janeiro, os jardins-de-infância foram ora confundidos com
as salas de asilo francesas, ora entendidos como início (perigoso) de
escolaridade precoce. Eram considerados prejudiciais à unidade familiar
por tirarem desde cedo a criança de seu ambiente doméstico, sendo
admitidos apenas no caso de proteção aos filhos de mães trabalhadoras.
Nesse momento já aparecem algumas
posições históricas em face da educação infantil que iriam se arrastar
até hoje: o assistencialismo e uma educação compensatória aos
desafortunados socialmente. Planejar um ambiente promotor da educação
era meta considerada com dificuldade.
As “criadeiras”, como eram chamadas,
foram estigmatizadas como “fazedoras de anjos”, em conseqüência da alta
mortalidade das crianças por elas atendidas, explicada na época pela
precariedade de condições higiênicas e materiais e – acrescentaríamos
hoje – pelos problemas psicológicos advindos de inadequada separação da
criança pequena de sua família.
As poucas conquistas ocorridas em
algumas regiões operárias não se deram sem conflitos. As reivindicações
operárias, dirigidas inicialmente aos donos de indústrias, foram sendo,
com o tempo, canalizadas para o Estado e atuaram como força de pressão
pela criação de creches, escolas maternais e parques infantis por parte
dos órgãos governamentais. Em 1923, a primeira regulamentação sobre o
trabalho da mulher previa a instalação de creches e salas de amamentação
próximas do ambiente de trabalho e que estabelecimentos comerciais e
indústrias deveriam facilitar a amamentação durante a jornada das
empregadas.
Em 1924, educadores interessados no
Movimento das Escolas Novas fundaram a Associação Brasileira de
Educação. Em 1929, Lourenço Filho publicou o livro Introdução ao estudo
da Escola Nova, divulgando as novas concepções entre os educadores
brasileiros. Em 1932, surgiu o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova,
documento que defendia amplo leque de pontos: a educação como função
pública, a existência de uma escola única e da coeducação de meninos e
meninas, a necessidade de um ensino ativo nas salas de aula e de o
ensino elementar ser laico, gratuito e obrigatório. As intervenções
educacionais propostas seriam parte de um processo de luta pela cultura
historicamente elaborada.
Entre outros pontos então discutidos
nesse período de renovação do pensamento educacional estava a educação
pré-escolar, instituída como a base do sistema escolar.
Outra iniciativa, de 1923, foi a
fundação da Inspetoria de Higiene Infantil, que, em 1934, foi
transformada em Diretoria de Proteção à maternidade e à Infância.
O governo Vargas (1930-1945), ao mesmo
tempo em que resguardava os interesses patrimoniais, reconheceu alguns
direitos políticos dos trabalhadores por meio de legislações
específicas, como a Consolidação das Leis do Trabalho – CLT, de 1943.
Embora desde a década de 30 já tivessem
sido criadas algumas instituições oficiais voltadas ao que era chamado
de proteção à criança, foi na década de 40 que prosperaram iniciativas
governamentais na área da saúde, previdência e assistência. O
atendimento fora da família aos filhos que ainda não freqüentassem o
ensino primário era vinculado a questões de saúde.
Entendidas como “mal necessário”, as
creches eram planejadas como instituições de saúde, com rotinas de
triagem, lactário, pessoal auxiliar de enfermagem, preocupação com a
higiene do ambiente físico. Por trás disso, buscava-se regular todos os
atos da vida, particularmente dos membros das camadas populares. Para
tanto, multiplicaram-se os convênios com instituições filantrópicas a
fim de promover o aleitamento materno e combater a mortalidade infantil.
No imaginário da época, a mãe continuava sendo a dona do lar, devendo
limitar-se a ele.
A preocupação era alimentar, cuidar da
higiene e da segurança física, sendo pouco valorizado um trabalho
orientado à educação e ao desenvolvimento intelectual e afetivo das
crianças. Assim, de forma desintegrada, ocorria o atendimento às
crianças em creches, parques infantis, escolas maternais,
jardins-de-infância e classes pré-primárias.
Em 1942, o Departamento Nacional da
Criança, então parte do Ministério da Educação e Saúde, criou a “Casa da
Criança”. O discurso médico continuava em destaque, mas já modificado
pela preocupação de certos grupos sociais com a organização de
instituições para evitar a marginalidade e a criminalidade de vastos
contingentes de crianças e jovens da população mais carente. Em 1953,
com a divisão daquele ministério, o Departamento Nacional da Criança
passou a integrar o Ministério da Saúde, sendo substituído em 1970 pela
Coordenação de Proteção Materno-Infantil.
Embora os textos oficiais do período
recomendassem que também as creches, além dos jardins-de-infância,
contassem com material apropriado para a educação das crianças, o
atendimento em creches e parques infantis continuou a ser realizado de
forma assistencialista.
Uma mudança importante havia ocorrido,
no entanto, no início desse período: a Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional aprovada em 1961 (Lei 4024/61) aprofundou a
perspectiva apontada desde a criação dos jardins-de-infância: sua
inclusão no sistema de ensino. Assim dispunha essa lei:
Art.23 – “A educação pré-primária
destina-se aos menores de até 7 anos, e será ministrada em escolas
maternais ou jardins-de-infância”.
Art. 24 – “As empresas que tenham a seu
serviço mães de menores de sete anos serão estimuladas a organizar e
manter, por iniciativa própria ou em cooperação com os poderes públicos,
instituições de educação pré-primária”.
No período dos governos militares pós
1964, as políticas adotadas em nível federal, por intermédio de órgãos
como o Departamento Nacional da Criança, a Legião Brasileira de
Assistência e a Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor – Funabem,
continuaram a divulgar a idéia de creche e mesmo de pré-escola como
equipamentos sociais de assistência à criança carente.
Novas mudanças na Consolidação das Leis
do Trabalho, ocorridas em 1967, trataram o atendimento aos filhos das
trabalhadoras apenas como uma questão de organização de berçários pelas
empresas, abrindo espaço para que outras entidades, afora a própria
empresa empregadora da mãe, realizassem aquela tarefa por meio de
convênios. O poder público, contudo, não cumpriu o papel de fiscal da
oferta de berçários pelas empresas. Assim, poucas creches e berçários
foram nelas organizados.
A nova legislação vigente sobre o ensino
formulada em 1971 (Lei 5692) trouxe novidades à área, ao dispor que:
“Os sistemas velarão para que as crianças de idade inferior a 7 anos
recebam educação em escolas maternais, jardins-de-infância ou
instituições equivalentes”.
Conceitos como carência e marginalização
cultural e educação compensatória foram então adotados, sem que
houvesse uma reflexão crítica mais aprofundada sobre as raízes
estruturais dos problemas sociais. Isso passou a influir também nas
decisões de políticas de educação infantil.
Assim, sob o nome de “educação
compensatória”, foram sendo elaboradas propostas de trabalho para as
creches e pré-escolas que atendiam a população de baixa renda. Tais
propostas visavam à estimulação precoce e ao preparo para a
alfabetização, mantendo, no entanto, as práticas educativas geradas por
uma visão assistencialista da educação e do ensino.
Nem tudo era harmonioso nesse processo.
Enquanto discursos compensatórios ou assistencialistas continuavam
dominantes no trabalho nos parques que atendiam filhos de operários e
nas creches que cuidavam das crianças de famílias de baixa renda,
propostas de desenvolvimento afetivo e cognitivo para crianças eram
adotadas pelos jardins-de-infância onde eram educadas as crianças de
classe média.
A referida pressão da demanda por
pré-escola e os polêmicos debates acerca de sua natureza – assistencial
versus educativa -, na segunda metade dos anos 70, dinamizaram as
decisões na área. Em 1974, o Ministério de Educação e Cultura criou o
Serviço de Educação Pré-Escolar e, em 1975, a Coordenadoria de Ensino
Pré-Escolar. O Projeto Casulo foi organizado em muitos municípios
brasileiros, atendendo, em período de quatro ou oito horas diárias, um
número gigantesco de crianças: 300 mil crianças, com prioridade para as
mais velhas, em 1981, e 600 mil crianças em 1983 (Campos, 1985).
O governo federal também se utilizou da
Fundação Mobral para competir com LBA pela mesma clientela infantil. Tal
fundação coordenou programas de atividades para a formação de hábitos,
habilidades e atitudes que eram supervisionados por monitoras com pouca
escolaridade. Iniciativas como essas, no contexto da época, serviram
para amenizar desigualdades e assistir necessidades básicas, e não para
promover aprendizagem.
Ao mesmo tempo, negociações trabalhistas
ocorridas no período que antecedeu a elaboração da Constituição de
1988, surgiram a discussão acerca do atendimento aos filhos dos
trabalhadores e resultaram em maior número de creches mantidas por
empresas industriais e comerciais e por órgãos públicos para os filhos
de seus funcionários, bem como na concessão, por parte de algumas
empresas, de uma ajuda de custo às funcionárias com crianças pequenas,
para pagarem creches particulares de sua livre escolha.
Mesmo assim, a insuficiência do número
de crianças atendidas nas creches pressionava o poder público a
incentivar outras iniciativas de atendimento à criança pequena.
Eram as “mães crecheiras”, os “lares
vicinais”, “creches domiciliares” ou “creches lares”, programas
assistenciais de baixo custo estruturados com a utilização de recursos
comunitários, tal como ocorria em muitos países do chamado Terceiro
Mundo. Tais formas de atendimento, das quais a comunidade carente já
lançava mão fazia tempo, constituíram alternativas emergenciais e
inadequadas, dada a precariedade de sua realização.
Com o término do período militar de
governo, em 1985, novas políticas para as creches foram incluídas no
Plano Nacional de Desenvolvimento, elaborado em 1986.
Começava a ser admitida a idéia de que a
creche não dizia respeito apenas à mulher ou a família, mas também ao
Estado e às empresas. A questão foi cada vez mais incluída nas campanhas
eleitorais de candidatos a prefeitos e governadores nos anos de 1985 e
1986 e no plano de governo de muitos dos eleitos.
Lutas pela democratização da escola
pública, somadas a pressões de movimentos feministas e de movimentos
sociais de lutas por creches, possibilitaram a conquista, na
Constituição de 1988, do reconhecimento da educação em creches e
pré-escolas como um direito da criança e um dever do Estado a ser
cumprido nos sistemas de ensino.
Após a promulgação da Constituição
Federal de 1988, que determinou que 50% da aplicação obrigatória de
recursos em educação fosse destinada a programas de alfabetização – em
um momento, em que era defendida a alfabetização de crianças em idade
anterior à do ingresso no ensino obrigatório -, houve expansão do número
de pré-escolas e alguma melhoria no nível de formação de seus docentes,
muitas vezes já incluídos em quadros de magistério. O filhote esquecido
nessa expansão era a creche; que, embora reconhecida como instituição
educacional, permanecia muito identificada com a idéia de favor e de
situação de exceção.
A década de 90 assistiu a alguns novos
marcos. Um deles foi a promulgação do Estatuto da Criança e do
Adolescente em 1990, que concretizou as conquistas dos direitos das
crianças promulgados pela Constituição. Na área da educação infantil, o
debate que acompanhou a discussão de uma nova Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional (LDB) na Câmara de Deputados e no Senado Federal
impulsionou diferentes setores educacionais, particularmente
universidades e instituições de pesquisa, sindicatos de educadores e
organizações não-governamentais, à defesa de um novo modelo de educação
infantil.
Após a promulgação da LDB, foram criados
fóruns estaduais e regionais de educação infantil como espaços de
reivindicações por mais verbas para programas de formação profissional
para professores dessa área. Um Referencial Curricular Nacional foi
formado pelo MEC e Diretrizes Nacionais para a Educação Infantil foram
definidos pelo Conselho Nacional de Educação. Esses pontos, contudo,
estão ainda longe de representar uma transformação das práticas
didáticas em curso nas creches e pré-escolas.
Segundo o MEC (1993), “A Educação
Infantil, primeira etapa da educação básica, embora tenha mais de um
século de história, como cuidado e educação extradomiciliar, somente nos
últimos anos foi reconhecida como direito da criança, das mães e dos
pais trabalhadores e como dever do Estado.(...)Tradicionalmente, na
educação de crianças de 0 a 3 anos predominam os cuidados em relação à
saúde, higiene e alimentação, enquanto a educação das crianças de 4 a 6
anos tem sido concebida e tratada como antecipadora/preparatória para o
Ensino Fundamental.
Esses fatos explicam, em parte,
algumas das dificuldades atuais de lidar com a Educação Infantil na
perspectiva da integração de cuidados e educação em creches e
pré-escolas e também na continuidade com as primeiras séries do Ensino
Fundamental. Na Constituição Federal de 1988, a educação das crianças de
0 a 6 anos, concebida, muitas vezes, como amparo e assistência, passou a
figurar como direito do cidadão e dever do Estado, numa perspectiva
educacional, em resposta aos movimentos sociais em defesa dos direitos
das crianças. Nesse contexto, a proteção integral às crianças deve ser
assegurada, com absoluta prioridade, pela família, pela sociedade e pelo
poder público. A Lei afirma, portanto, o dever do Estado com a educação
das crianças de 0 a 6 anos de idade. A inclusão da creche no capítulo
da Educação explicita a função eminentemente educativa desta, da qual é
parte intrínseca a função de cuidar. Essa inclusão constituiu um ganho,
sem precedentes, na história da Educação Infantil em nosso país. A
década de 1990 iniciou-se sob a égide do dever do Estado perante o
direito da criança à educação, explicitando as conquistas da
Constituição de 1988. Assim, em 1990, no Estatuto da Criança e do
Adolescente foram reafirmados esses direitos, ao mesmo tempo em que
foram estabelecidos mecanismos de participação e controle social na
formulação e na implementação de políticas para a infância. Em 1994, o
Ministério da Educação coordenou a elaboração do documento de Política
Nacional de Educação Infantil, no qual se definem como principais
objetivos para a área a expansão da oferta de vagas para a criança de 0 a
6 anos, o fortalecimento, nas instâncias competentes, da concepção de
educação e cuidado como aspectos indissociáveis das ações dirigidas às
crianças e a promoção da melhoria da qualidade.
Nos documentos oficiais, percebemos o
empenho e boas intenções nas propostas para a educação infantil, mas é
preciso ter uma postura transdisciplinar e ir além das teorias,
colocando em prática os princípios fundamentais para garantir e
oportunizar a criança no seu ambiente de aprendizagem o crescimento
sadio: físico, emocional e intelectual.
Os pensadores que influenciaram na concepção da educação infantil
Pensadores
como Comênio, Rousseau, Pestalozzi, Decroly, Froebel e Montessori (1),
entre outros, estabeleceram as bases para um sistema de ensino mais
centrado na criança.
Muitos deles achavam-se compromissados
com questões sociais relativas a crianças que vivenciavam situações
sociais críticas (órfãos de guerra, pobreza) e cuidaram de elaborar
propostas de atividades em instituições escolares que compensassem
eventuais problemas de desenvolvimento. Embora com ênfases diferentes
entre si, as propostas de ensino desses autores reconheciam que as
crianças tinham necessidades próprias e características diversas das dos
adultos, como o interesse pela exploração de objetos e pelo jogo.
Para Oliveira (2005) “ Ao longo de
muitos séculos, o cuidado e a educação das crianças pequenas foram
entendidos como tarefas de responsabilidade familiar, particularmente da
mãe e de outras mulheres. O recorte em favor da família como a matriz
educativa preferencial aparece também nas denominações das instituições
de guarda e educação da primeira infância. O termo francês creche
equivale à manjedoura, presépio. O termo italiano asilo indica um ninho
que abriga. Escola materna foi outra designação usada para referir-se ao
atendimento de guarda e educação fora da família a crianças pequenas.
Até a criação de rodas – cilindros ocos de madeira, giratórios,
construídos em muros de igrejas ou hospitais de caridade que permitiam
que bebês fossem neles deixados sem que a identidade de quem os trazia
precisasse ser identificada para recolhimento dos expostos ou a
deposição de crianças abandonadas em lares substitutos, já na Idade
Média e Moderna”.
Nos séculos XV e XVI, novos modelos
educacionais foram criados para responder aos desafios estabelecidos
pela maneira como a sociedade européia então se desenvolvia. Autores
como Erasmo (1465-1530) e Montaigne (1483-1553) sustentavam que a
educação deveria respeitar a natureza infantil, estimular a atividade da
criança e associar o jogo à aprendizagem.
Gradativamente, surgiram arranjos mais
formais para atendimento de crianças fora da família em instituições de
caráter filantrópico, especialmente delineadas para esse objetivo e que
organizavam as condições para o desenvolvimento infantil segundo a forma
como o destino social da criança atendida era pensado.
Educar crianças menores de 6 anos de
diferentes condições sociais já era uma questão tratada por COMÊNIO
(1592-1670), educador e bispo protestante checo. Em seu livro “A escola
da infância”, publicado em 1628, afirmava que o nível inicial de ensino
era o “colo da mãe” e deveria ocorrer dentro dos lares. Em 1637 elaborou
um plano de escola maternal em que recomendava o uso de materiais
audiovisuais, como livros de imagens, para educar crianças pequenas.
Já em 1657 Comênio usou a imagem de
“jardim-de-infância (onde “arvorezinhas plantadas”, seriam regadas) como
o lugar da educação das crianças pequenas.
Em oposição ao ideário da Reforma e da
Contra – reforma religiosa então em curso na Europa, o filósofo
genebrino Jean Jacques ROUSSEAU (1712-1778) criou uma proposta
educacional em que combatia preconceitos, autoritarismos e todas as
instituições sociais que violentassem a liberdade característica da
natureza. Ele destacava o papel da mãe como educadora natural da
criança.
ROUSSEAU revolucionou a educação de seu
tempo ao afirmar que a infância não era apenas uma via de acesso, um
período de preparação para a vida adulta, mas tinha valor em si mesma;
propunha que a educação seguisse a liberdade e o ritmo da natureza,
contrariando os dogmas religiosos da época, que preconizavam o controle
dos infantes pelos adultos.
Defendia uma educação não orientada
pelos adultos, mas que fosse resultado do livre exercício das
capacidades infantis e enfatizasse não o que a criança tem permissão
para saber, mas o que é capaz de saber.
As idéias de Rousseau abriram caminho
para as concepções educacionais do suíço PESTALOZZI (1746-1827), que
também reagiu contra o intelectualismo excessivo da educação
tradicional. Educar deveria ocorrer em um ambiente o mais natural
possível, num clima de disciplina estrita, mas amorosa, e pôr em ação o
que a criança já possui dentro de si, contribuindo para o
desenvolvimento do caráter infantil. Pestalozzi destacou ainda o valor
educativo do trabalho manual e a importância de a criança desenvolver
destreza prática.
Também se preocupou com a idéia de que a
educação deveria ser metodicamente ordenada para os sentidos: a
percepção da criança seria educada pela intuição e o ensino deveria
priorizar coisas, não palavras. Sua pedagogia enfatizava ainda a
necessidade de a escola treinar a vontade e desenvolver as atitudes
morais dos alunos.
As idéias de Pestalozzi foram levadas
adiante por FROEBEL (1782-1852), educador alemão. Influenciado por uma
perspectiva mística, uma filosofia espiritualista e um ideal político de
liberdade, criou em 1837 um Kindergarten (jardim-de-infância) onde
crianças e adolescentes – pequenas sementes que, adubadas e expostas a
condições favoráveis em seu meio ambiente, desabrochariam sua divindade
interior em um clima de amor, simpatia e encorajamento – estariam livres
para aprender sobre si mesmo e sobre o mundo. O modo básico de
funcionamento de sua proposta educacional incluía atividades de
cooperação e o jogo, entendidos como a origem da atividade mental.
Elaborou canções e jogos para educar
sensações e emoções, enfatizou o valor educativo da atividade manual,
confeccionou brinquedos para a aprendizagem da aritmética e da
geometria, além de propor que as atividades educativas incluíssem
conversas e poesias e o cultivo da horta pelas crianças. Os recursos
pedagógicos, básicos neste modelo, eram divididos em dois grupos: as
prendas ou dons e as ocupações.
As prendas eram materiais que não
mudavam de forma – cubos, cilindros, bastões e que, usados em
brincadeiras, possibilitariam à criança fazer construções variadas e
formar um sentido da realidade e um respeito à natureza.
Já as ocupações consistiam em materiais
que se modificavam com o uso – tais como argila, areia e papel usados em
atividades de modelagem, recorte, dobradura, alinhavo em cartões com
diferentes figuras desenhadas, etc.
Canções completariam essa lista de
materiais e atividades. As prendas e as ocupações se articulariam pela
mediação da educadora na formação da livre expressão infantil, ou seja,
daquilo que Froebel, dentro de seu quadro ideológico, chamou de
“atividade materna”.
A ênfase posta por ele na liberdade da
criança, espelhando movimentos liberais em curso na Europa, passou a ser
vista como ameaçadora ao poder político alemão, o que levou o
autoritarismo governamental da época a fechar os jardins-de-infância do
país por volta de 1851. As sementes da renovação educacional pensada por
Froebel, proibida na Alemanha, encontraram solo fértil em outros
países. A sistematização de atividades para crianças pequenas com o uso
de materiais especialmente confeccionados foi realizada por dois médicos
interessados pela educação.
DECROLY (1871-1932), médico belga,
trabalhando com crianças excepcionais, elaborou, em 1901, uma
metodologia de ensino que propunha atividades didáticas baseadas na
idéia de totalidade do funcionamento psicológico e no interesse da
criança, adequadas ao sincretismo que ele julgava ser próprio do
pensamento infantil. Decroly defendia um ensino voltado para o
intelecto.
Nos centros de interesse, o trabalho se
estruturaria segundo três eixos: observação, associação e expressão.
Decroly é conhecido ainda por defender rigorosa observação dos alunos a
fim de poder classificá-los e distribuí-los em turmas homogêneas. O nome
da médica psiquiatra italiana Maria MONTESSORI (1879-1952) inclui-se
também nas lista dos principais construtores de propostas sistematizadas
para a educação infantil no século XX.
Em 1907, foi convidada a organizar uma
sala para educação de crianças sem deficiências dentro de uma habitação
coletiva destinada a famílias dos setores populares, experiência que
denominou “Casa das Crianças”.
Ao contrário de Rousseau, que defendia a
auto-educação, Montessori não aceitava a natureza como ambiente
apropriado para o desenvolvimento infantil. Antes, era a favor da
criação de um contexto que fosse adequado às possibilidades de cada
criança e estimulasse seu desenvolvimento. Montessori teve como marca
distintiva a elaboração de materiais adequados a exploração sensorial
pelas crianças e específicos ao alcance de cada objetivo educacional.
Seu material didático buscava fazer um detalhamento rigoroso do conteúdo
a ser trabalhado com as crianças e previa exercícios destinados a
desenvolver, passo a passo, as diversas funções psicológicas.
Sua proposta desviava a atenção do
comportamento de brincar para o material estruturador da atividade
própria da criança: o brinquedo. Montessori criou instrumentos
especialmente elaborados para a educação motora (ligados, sobretudo à
tarefa de cuidado pessoal) e para a educação dos sentidos e da
inteligência – por exemplo, letras móveis, letras recortadas em
cartões-lixa para aprendizagem de leitura, contadores, como o ábaco,
para aprendizado de operações com números.
Foi ainda quem valorizou a diminuição do
tamanho do mobiliário usado pelas crianças nas pré-escolas e a
exigência de diminuir os objetos domésticos cotidianos a serem
utilizados para brincar na casinha de boneca. No campo da Psicologia,
uma série de autores oferecia novas formas de compreender e promover o
desenvolvimento das crianças pequenas.
Vygotsky, na década de 20 e 30, atestava
que a criança é introduzida na cultura por parceiros mais experientes.
Ainda na primeira metade do século XX, Wallon destacava o valor da
afetividade na diferenciação que cada criança aprende a fazer entre si
mesma e os outros.
Os psicanalistas reconheciam que o
comportamento infantil deveria ser interpretado, e não meramente aceito
em seus aspectos observáveis. Finalmente, há que mencionar as pesquisas
de Piaget e colaboradores que revolucionaram a idéia dominante sobre a
criança.
Novos protagonistas destacaram-se ainda
na primeira metade do século XX. Celestin FREINET (1896-1966) foi um dos
educadores que renovaram as práticas pedagógicas de seu tempo. Para
ele, a educação que a escola dava às crianças deveria extrapolar os
limites da sala de aula e integrar-se às experiências por elas vividas
em seu meio social. A seu ver, as atividades manuais e intelectuais
permitem a formação de uma disciplina pessoal e a criação do
trabalho-jogo, que associa atividade e prazer e é por ele encarado como
eixo de uma escola popular. A pedagogia de Freinet organiza-se ao redor
de uma série de técnicas ou atividades, entre elas as aulas-passeio, o
desenho livre, o texto livre, o jornal escolar, a correspondência
inter-escolar, o livro da vida. Apesar de ele não ter trabalhado
diretamente com crianças pequenas, sua experiência teve lento, mas
marcante impacto sobre as práticas didáticas em creches e pré-escolas em
vários países.
A defesa da brincadeira como recurso
para o desenvolvimento infantil levou pais de classe média a buscar a
organização de play groups, algumas horas por semana, para atendimento
de seus filhos pequenos, embora ainda dentro da perspectiva tradicional
no que se refere ao papel privilegiado da família na educação dos
filhos. A atual etapa reconhece o direito de toda a infância.
Trata-se como “sujeito social” ou “ator
pedagógico” desde cedo, agente construtor de conhecimentos e sujeito de
autodeterminação, ser ativo na busca do conhecimento, da fantasia e da
criatividade, que possui grande capacidade cognitiva e de sociabilidade e
escolhe com independência seus itinerários de desenvolvimento. Para as
crianças, cada vez mais são produzidos brinquedos educativos e
literatura própria. A primeira infância constitui, assim, um campo
mercadológico: brinquedos, roupas, discos, espetáculos, espaços públicos
e até pedagogias.
Alguns pontos, contudo, são comuns. O
debate não está mais centrado em se deve haver investimento na área de
educação infantil, mas em por que e para quem ela existe e como
organizá-la para oferecer serviços de qualidade. O acolhimento a
crianças pequenas em instituições como creches e pré-escolas varia de
país para país.
Em alguns países a pré-escola está
ligada a escola primária, embora com modelos diferentes, ora centrados
no desenvolvimento infantil, ora na preparação para atividades mais
formalizadas. Pesquisas em diferentes países, particularmente na Europa
ocidental e nos Estados Unidos, mas também no Japão, na Coréia, na Nova
Zelândia, etc, revelam que o fato de a criança freqüentar uma
instituição de educação infantil amplia suas condições de
desenvolvimento cognitivo, físico, afetivo e de socialização, embora
essa vantagem se torne menos visível com o decorrer do tempo. As
crianças pequenas que se beneficiam de um serviço de qualidade tendem a
desenvolver mais o raciocínio e a capacidade de solução de problemas, a
ser mais cooperativas e atentas aos outros e a adquirir maior confiança
em si.
Segundo algumas pesquisas realizadas,
cresce a consciência, no mundo inteiro, sobre a importância da educação
das crianças de 0 a 6 anos, em estabelecimentos específicos com
orientações e práticas pedagógicas apropriadas, como decorrência das
transformações socioeconômicas verificadas nas últimas décadas, e também
apoiada em fortes argumentos consistentes advindos das ciências que
investigam o processo de desenvolvimento da criança.
Na última década, várias foram as
mudanças ocorridas na legislação brasileira que define a garantia de
atenção às crianças de 0 a 6 anos, configurando-se mesmo, num novo
ordenamento legal, iniciado pela Constituição Federal de 1988 e
consolidando, por assim dizer, com a promulgação da nova LDB 9394/96. Ao
menos no papel, esse novo ordenamento caracteriza-se por uma concepção
de atenção à criança atribuindo-lhe a condição de cidadã, cujo direito à
proteção integral deve ser assegurado pela família, pela sociedade e
pelo poder público, com absoluta prioridade.
Para Emília Ferreiro (2004), em relação a
sua pesquisa que muito colaborou nas discussões realizadas no Brasil na
década de 80, principalmente na contrução de novas idéias sobre o
desenvolvimento e aprendizagem da criança; vale a pena citar a fala dela
em uma das suas entrevistas: “A minha contribuição foi encontrar uma
explicação segundo a qual, por trás da mão que pega o lápis, dos olhos
que olham, dos ouvidos que escutam, há uma criança que pensa”.
E é neste contexto que vislumbramos a
necessidade de se trabalhar a educação infantil de forma mais
abrangente, levando em consideração o contexto social, conhecendo e
valorizando as diferenças individuais e os ritmos de aprendizagem de
cada indivíduo na sua trajetória de formação epistemológica, dando a
verdadeira atenção a educação infantil como primeira etapa da educação
básica.
____
1 - Os fragmentos sobre os pensadores
foram retirados de NICOLAU, Marieta L. M. A educação Pré-escolar:
fundamentos e didática. 9. ed. São Paulo: Ática, 1997.
Fundamentos Legais para a Educação Infantil
A Constituição de 1988, inciso IV do artigo 208, afirma: O
dever do Estado com a educação será efetivado mediante garantia de
(...) atendimento em creche e pré-escola às crianças de zero a seis anos
de idade. Com a inclusão da creche no capítulo da Educação, a
Constituição explicita a função eminentemente educativa da mesma, à qual
se agregam as ações de cuidado. O Estatuto da Criança e do Adolescente,
no capítulo IV, Art.53, inciso IV, reafirma esse direito
constitucional: É dever do Estado assegurar à criança e ao
adolescente: (...) atendimento em creche e pré-escola às crianças de 0 a
6 anos de idade.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (Lei Nº 9.394), de 20 de dezembro de 1996, reproduz, também o
inciso da Constituição Federal no Art.4º do Titulo III (Do Direito À
Educação E Do Dever De Educar). Quando trata da Composição dos Níveis
Escolares, no Art.21, a LDB explicita: A educação escolar compõe-se de: I - Educação básica, formada pela educação infantil, ensino fundamental e ensino médio; (...). No capítulo sobre a Educação Básica, Seção II, trata especificamente da Educação Infantil, nos seguintes termos:
Art. 29. A educação infantil,
primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento
integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico,
psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da
comunidade.
Art. 30. A educação infantil será oferecida em:
I - creches, ou entidades equivalentes, para crianças de até três anos de idade;
II - pré-escolas, para as crianças de quatro a seis anos de idade.
II - pré-escolas, para as crianças de quatro a seis anos de idade.
Art. 31. Na educação infantil a
avaliação far-se-á mediante acompanhamento e registro do seu
desenvolvimento, sem o Objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao
ensino fundamental.
Segundo Kramer (2002) no artigo intitulado “Educação infantil como direito”:
“Educação infantil como direito se
configura como conquista a partir de muitas e longas lutas na história
da sociedade brasileira. De 1975, quando da realização do primeiro
Diagnóstico Nacional da Educação Pré-escolar, feito pelo MEC, passando
por 1979 – Ano Internacional da Criança -, pela Constituinte de 1988,
pelo Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990, até a Lei de
Diretrizes e bases da Educação Nacional de 1996, trata-se da conquista
de uma visão das crianças enquanto cidadãos de direitos, inclusive o
direito à educação infantil. Mas devemos atender as crianças porque é
lei?
Não; trata-se de educação na sua
função precípua de formar a geração. Mais do que tudo, está em jogo a
nossa responsabilidade social – enquanto professores, mulheres e homens,
cidadãos – de tratarmos as crianças como cidadãs de pequena idade,
instituindo alternativas diversas de socialização para todas e abrindo
espaços para as crianças nas mais diferentes instituições já existentes.
Por outro lado, no campo das
políticas direcionadas à infância temos tido historicamente avanços,
retrocessos e impasses, ganhando muitas vezes no discurso, perdendo,
contudo, nas ações concretas”.
As exigências colocadas pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação determinam uma reorganização dos sistemas de ensino. A transferência das creches da assistência para a educação, por exemplo, implica o estabelecimento de normas e regulamentações para o credenciamento e funcionamento das mesmas e, conseqüentemente, para a realização da supervisão, acompanhamento, controle e avaliação por parte dos sistemas de ensino.
Em 1998, o MEC publicou o documento
“Subsídios para credenciamento e funcionamento de instituições de
educação infantil”, visando contribuir para a elaboração dessas normas
pelos conselhos municipais e estaduais de educação. Atualmente
percebe-se que muitas instituições de educação infantil estão em
processo de reorganização, pois desconheciam as propostas publicadas
pelo Mec, e as novas exigências com relação a formação adequada de
profissionais para atuarem na educação infantil conforme prevê a LDB
9394/96.
A integração das creches e pré-escolas
nos sistemas de ensino, exigida pela Lei 9394/96, ampliou o debate sobre
o que seria proposta pedagógica para essas instituições; ampliando,
assim, as discussões fundamentadas nos subsídios teóricos visando uma
prática contextualizada e coerente nos diferentes segmentos do cotidiano
das instituições que atendem a criança pequena.
Gestão da Educação Infantil
Gestão(1) da Educação Infantil
As Diretrizes Curriculares Nacionais
para a Educação Infantil(2) representam um marco na conquista de uma
nova etapa na história da educação da primeira infância no Brasil,
superando a dicotomia assistência e educação, fruto de uma história
assistencialista.
No decorrer das atividades propostas na
educação infantil, coletivamente os profissionais atuantes em creches ou
pré-escolas criam pressupostos, acordos e regras básicas que são
assumidos e transmitidos por seus integrantes como modos corretos de
observar, pensar e sentir em relação ao trabalho desenvolvido e aos
problemas criados. A proposta nesta modalidade precisa ser entendida num
todo coletivo e não como um plano individual predeterminado. Planejar o
currículo implica ouvir os profissionais em suas concepções e decisões,
problematizar a visão deles sobre a creche e a pré-escola, evitando
perspectivas fragmentadas e contraditórias, que refletem a influência
das várias concepções educacionais que vivenciaram ou com que tiveram
contato. Implica, reconhecer as famílias como interlocutoras e parceiras
privilegiadas e garantir a participação delas e da comunidade no
processo, tarefas que exigem a superação de muitos obstáculos.
Em vez de um método único de ensino,
baseado em um processo cognitivo que se julga perfeito, homogêneo e
irreversível, os subsídios propõem o encorajamento da familiaridade das
crianças com novas situações participando de todos os espaços de
aprendizagem que lhe são propostas nos diferentes momentos de
permanência na instituição.
No artigo IV da Resolução nº 1, de 7 de abril de 1999, diz que:
“As propostas das instituições de educação infantil, ao reconhecer as crianças como seres íntegros, que aprendem a ser e conviver consigo próprio, com os demais e o próprio ambiente de maneira articulada e gradual, devem buscar a partir de atividades intencionais, em momentos de ações, ora estruturadas, ora espontâneas e livres, a interação entre as diversas áreas de conhecimento e aspectos da vida cidadã, contribuindo assim com o provimento de conteúdos básicos para a constituição de conhecimentos e valores.”
_____
1- Os sistemas de ensino definirão
normas de gestão democrática dos estabelecimentos públicos de educação
infantil, atendendo aos princípios de participação dos profissionais da
educação, da família e da comunidade, na elaboração e execução do
projeto pedagógico da instituição e de participação das comunidades
escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes. (MEC)
2 - DCNEI – Resolução CEB Nº 1, de 7 de abril de 1999.
Do assistencialismo ao pedagógico
Sabe-se
que a discussão entre assistência e educação vem ocorrendo em momento
de precisão conceitual, ou de transformação de “termos” em conceitos. A
Constituição de 1988 e a LDB consagraram os termos creche e pré-escola,
não os eliminando ou os substituindo por outros, como ocorreu na
história da educação infantil norte-americana ou sueca (Rosemberg,
1989). Porém, nenhum dos documentos conceitua o que sejam tais termos,
isto é, em que se aproximam e em que se diferenciam.
O embate atual entre educação e
assistência no campo da educação infantil não está imune a disputas,
mais ou menos conscientes, em torno de posições de poder, antigas e
novas.
Considero que o que nos mobilizou e nos
mobiliza (por exemplo, nos debates recentes sobre a LDB e o Plano
Nacional de Educação), quando enfatizamos o direito à educação, de
crianças pequenas, resume-se em duas idéias fortes: a busca na educação
infantil (e não apenas por meio da ou pela educação) de igualdade de
oportunidades para as crianças; isto é, espera-se, deseja-se, luta-se
para que a educação infantil não produza ou reforce desigualdades
(econômicas, raciais, de gênero); a adoção de uma concepção ampla de
educação, aberta, indo além dos modelos que aqui conhecemos, de educação
escolar; isto é, uma concepção de educação em acordo com a nova maneira
de olhar a criança pequena que se está construindo no Brasil, como ser
ativo, competente, agente, produtor de cultura, pleno de possibilidades
atuais, e não apenas futuras.
Para Oliveira (1995): “Cada creche
ou pré-escola pode organizar seu currículo ao redor de projetos
didáticos que tenham a preocupação de trabalhar as emoções, a linguagem,
à imaginação, além de noções pertencentes à esfera do conhecimento
lógico (este, sim, mais verbal, mas explorado em situações concretas).
Esses projetos devem ser desenvolvidos durante um tempo variável do ano
escolar, por meio de múltiplas atividades”.
O projeto didático pode possibilitar às
crianças diferenciar suas próprias experiências das de outras pessoas,
pensar o presente e o passado, o sentido do tempo e do espaço. Por meio
do projeto, podem ver o espaço como uma construção histórica organizada
socialmente para atender necessidades criadas nas comunidades e
trabalhar o tempo como um ato de liberação do presente, considerando as
diferentes temporalidades existentes no cotidiano. Suas representações
sobre o tema são reelaboradas pelo olhar da professora, que, durante
todo o processo, tenta apreender as hipóteses e as significações
infantis.
___
Dadas as particularidades do
desenvolvimento da criança de zero a seis anos, a Educação Infantil
cumpre duas funções indispensáveis e indissociáveis: cuidar e educar,
complementando a ação da família e da comunidade. (MEC,1998)
Rotina versus educativo
No
decorrer das atividades do cotidiano da instituição de educação
infantil, percebe-se que a rotina que envolve a higiene, a alimentação e
os cuidados necessários ao desenvolvimento sadio da criança toma muito
tempo, ficando as outras atividades que envolvem o pedagógico em segundo
plano, por não ter a clareza necessária sobre o que é planejar na
educação infantil.
No novo enfoque educacional, as
atividades de cuidado pessoal podem ser lúdicas e promover a construção
de hábitos e aprendizagens de regras. Os cuidados básicos são vários, de
início, exige-se atenção para as condições de habitabilidade da
instituição: limpeza, ventilação, isolação, segurança e higiene de seus
equipamentos. Locais inseguros ou insalubres devem ser reformados de
imediato. Às crianças devem ser oferecidas água potável e alimentação
adequada. Se quisermos formar certos hábitos nas crianças, precisamos
criar situações que os promovam. Por exemplo, oferecer cuidados de
higiene pessoal que garantam limpeza e conforto, como banhos
refrescantes, rotinas coletivas de uso de penico, rotinas de higiene
bucal realizadas com humor, utilizando histórias com personagens que
sirvam como modelo para iniciação ou expressem resistências com as quais
a criança se identifica e que pode superar. Além disso, uma meta básica
nessas situações é reduzir o tempo de espera para ser atendido e
promover a autonomia. As áreas para higiene pessoal devem ser bem
cuidadas: pias e privadas baixas, muitos espelhos, toalhas individuais,
assim como escovas de dente guardadas de modo que permaneçam limpas e
sejam reconhecidas individualmente pelas crianças. A organização do
almoço para as crianças deve visar tanto a uma alimentação que propicie
seu desenvolvimento físico e sua saciedade, em uma atmosfera de prazer,
quanto ao aprendizado de modos apropriados de alimentar-se, definidos em
uma cultura específica.
No que diz respeito à saúde, as crianças
devem ser continuamente observadas para acompanhamento e detecção
precoce de sinais e sintomas a ser comunicados à família e encaminhados
aos serviços de saúde. Sabe-se que por medida de segurança, a prescrição
de medicamentos só pode ser feita sob estrita observação médica.
De acordo com MEC (1998), a legislação
brasileira quanto à educação infantil enfatiza: “a creche e a pré-escola
constituem simultaneamente um direito da criança à educação e um
direito da família de compartilhar a educação de seus filhos em
equipamentos sociais. O Estado tem deveres também para com a educação da
criança de 0 a 6 anos, devendo criar condições para a expansão do
atendimento e a melhoria da qualidade, cabendo ao município a
responsabilidade de sua institucionalização, com o apoio financeiro e
técnico das esferas federal e estadual. A creche, assim como a
pré-escola, é equipamento educacional e não apenas de assistência. Neste
sentido, uma das características da nova concepção de educação infantil
reside na integração das funções de cuidar e educar”.
A concepção de criança como um ser
“completo, total e indivisível”, presente no documento, determina a
promoção de “práticas de educação e cuidados” que possibilitem a
integração entre os aspectos afetivos, cognitivos, físicos e sociais da
criança. Neste sentido, estabelece-se a indissociabilidade entre
educação e cuidado.
É esse o entendimento presente nas
Diretrizes Curriculares Nacionais (Parecer CEB nº 022/98 ), que
estabelecem paradigmas para a concepção de programas de cuidado e
educação com qualidade. Portanto, dada as particularidades do
desenvolvimento da criança de zero a seis anos, a educação infantil
cumpre duas funções indispensáveis e indissociáveis: educar e cuidar.
Atribuições e competências do profissional de Educação Infantil
Modificar
isto pressupõe atentar para vários aspectos, além dos legais, a
integração entre aspectos físicos, emocionais, afetivos, cognitivos e
sociais da criança. Perceber a Criança como um ser completo e
indivisível. Trabalhar com estes aspectos integradamente tem sido o
desafio; existem práticas que privilegiam – os aspectos físicos – a
criança como carente, frágil, dependente e passiva – procedimentos de
rotinas rígidas, dependentes dos adultos; necessidades emocionais –
substitutos maternos; espaço da educação infantil para o desenvolvimento
de uma pedagogia relacional – relações pessoais entre adultos e
crianças.
Os aspectos do desenvolvimento cognitivo
ainda é uma questão polêmica na educação infantil: concepções do
desenvolvimento das estruturas de pensamento (generalizar, recordar,
formar conceitos e raciocinar logicamente); a aprendizagem de conteúdos
específicos; polêmicas sobre cuidar e educar, sobre o papel do afeto na
relação pedagógica e sobre educar para o desenvolvimento ou para o
conhecimento tem constituído o panorama de fundo das propostas de
educação infantil. Diante de todos estes fragmentos, a exigência em
relação a formação do educador torna-se outro grande desafio, suas
atribuições e competência dependerá muito da formação acadêmica para
atingir suas funções: De acordo com os fragmentos retirados da proposta
para creche-pré-escola da Secretaria do Menor (São Paulo,1991), são
atribuições e competências do educador(1) :
“1- Planejar, executar e avaliar o trabalho desenvolvido diretamente com a criança, sob orientação do coordenador pedagógico.
2- Acompanhar e registrar o desenvolvimento da criança, a fim de subsidiar a reflexão e o aperfeiçoamento de seu trabalho.
3- Receber e acompanhar a criança diretamente na sua entrada e saída da unidade.
4- Manter contato diário com os pais e/ ou responsável para troca de informações sobre a criança.
5-Participar das reuniões e entrevistas com os pais quando convocado pela direção da unidade.
6- Acompanhar , orientar e cuidar da higiene pessoal da criança, de acordo com as orientações da instituição creche/pré-escola.
7-Encaminhar ao técnico de enfermagem da unidade as crianças que apresentarem alguma alteração em seu estado geral de saúde.
8-Oferecer, acompanhar e cuidar da alimentação da criança, de acordo com as orientações da instituição.
9- Registrar a freqüência diária da criança e encaminhar para o encarregado administrativo.
10-Acompanhar as crianças em atividades externas à unidade.
11- Prever, organizar e controlar material necessário para o desenvolvimento das atividades com as crianças.
12-Conservar as condições ambientais adequadas às atividades educacionais: limpeza, iluminação, ventilação da sala ...
13-Organizar, orientar e zelar pelo uso adequado do espaço, dos materiais e dos brinquedos.
14-Manter o coordenador pedagógico
informado de todo o trabalho em desenvolvimento no grupo de crianças sob
sua responsabilidade”.
Os referenciais teóricos mostram uma visão crítica, política e historicamente enraizada da criança e da instituição escolar que supera discriminações de gênero, raça e classe social. É preciso que goste de criança e compreenda sua maneira lúdica e criativa de ser; a maturidade emocional e intelectual para alicerçar o desenvolvimento no momento da construção da identidade e da alfabetização cultural o domínio dos conhecimentos culturais e científicos gerais e específicos; a capacidade de observação, reflexão, articulação teórica – prática; a construção do ambiente propício a autonomia; a capacidade de trabalho de equipe; a Indissociável à profissionalização integrando estratégias que contemplem avanços na escolaridade e progressão na carreira; a formação regular sólida e interdisciplinar – tendo como norte o nível universitário – formação em serviço do professor – pesquisador e reflexivo; tudo isso faz parte da construção da identidade do educador no cotidiano da instituição infantil.
____
1- Aqui, entende-se por educador o
profissional que atua com a criança de 0-6anos, com formação prevista na
legislação em vigor (LDB 9394/96)
O que contempla a proposta pedagógica no contexto atual
Foi
elaborado e divulgado, no período de 1997-1998, o documento
“Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil”, com o
intuito de subsidiar os sistemas educacionais na elaboração ou
implementação de programas e currículos condizentes com suas realidades e
singularidades, com vistas à implementação de práticas educativas de
qualidade com a criança de 0-6 anos. De acordo com o documento elaborado
pelo Mec (1998, p. 35) para Credenciamento e Funcionamento de Educação
Infantil:
“A educação infantil tem como
finalidade o desenvolvimento integral da criança em seus aspectos
físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da
família e da comunidade. A educação infantil tem como objetivos
proporcionar condições adequadas para promover o bem-estar da criança,
seu desenvolvimento físico, motor, emocional, intelectual, moral e
social, a ampliação de suas experiências e estimular o interesse da
criança pelo processo do conhecimento do ser humano, da natureza e da
sociedade”.
A intenção na época (1996) era a de
contemplar um espectro de questões implicadas no dia – a dia das
crianças nas instituições de educação infantil: legislação,
financiamento, gestão, políticas públicas, municipalização, processo de
transição das creches para os sistemas de ensino, fundamentos e
pedagogia da educação infantil, psicologia do desenvolvimento humano,
currículo e projeto pedagógico, organização espacial, formação dos
profissionais, inclusão.
A proposta pedagógica deve estar
fundamentada numa concepção de criança como cidadã, como pessoa em
processo de desenvolvimento, como sujeito ativo da construção do seu
conhecimento, como sujeito social e histórico marcado pelo meio em que
se desenvolve e que também o marca.
Na elaboração e execução da proposta
pedagógica será assegurado à instituição de educação infantil, na forma
da lei, o respeito aos princípios do pluralismo de idéias e de
concepções pedagógicas.
De acordo com os documentos oficiais
produzidos pelo Mec, compete à instituição de Educação Infantil elaborar
sua proposta pedagógica considerando:
* Fins e objetivos da proposta;
* Concepção de criança, de desenvolvimento infantil e de aprendizagem;
* Características da população a ser atendida e da comunidade na qual se insere;
* Regime de funcionamento;
* Espaço físico, instalações e equipamentos;
* Relação de recursos humanos, especificando cargos e funções, habilitação e níveis de escolaridade;
* Parâmetros de organização de grupos e relação professor/criança;
* Organização do cotidiano de trabalho junto às crianças;
* Proposta de articulação da instituição com a família e a comunidade;
* Processo de avaliação do desenvolvimento integral da criança;
* Processo de planejamento geral e avaliação institucional
* Processo de articulação da Educação Infantil com o Ensino Fundamental .
* Concepção de criança, de desenvolvimento infantil e de aprendizagem;
* Características da população a ser atendida e da comunidade na qual se insere;
* Regime de funcionamento;
* Espaço físico, instalações e equipamentos;
* Relação de recursos humanos, especificando cargos e funções, habilitação e níveis de escolaridade;
* Parâmetros de organização de grupos e relação professor/criança;
* Organização do cotidiano de trabalho junto às crianças;
* Proposta de articulação da instituição com a família e a comunidade;
* Processo de avaliação do desenvolvimento integral da criança;
* Processo de planejamento geral e avaliação institucional
* Processo de articulação da Educação Infantil com o Ensino Fundamental .
Para Kramer (2003) “o trabalho
pedagógico em educação infantil não precisa ser feito sentado em
carteiras; o que caracteriza o trabalho pedagógico é a experiência com o
conhecimento científico e com a literatura, a música, a dança, o
teatro, o cinema, a produção artística, histórica e cultural que se
encontra nos museus, a arte. Trabalhando simultaneamente com pré-escola e
primeiro grau, educação infantil e ensino fundamental, formação de
professores de educação infantil e professores das primeiras séries do
ensino fundamental, com linguagem, leitura e escrita, aprendi que, do
ponto de vista da criança, não há fragmentação”.
As propostas Pedagógicas para as
instituições de Educação Infantil devem promover em suas práticas de
educação e cuidados, a integração entre os aspectos físicos, emocionais,
afetivos, cognitivo/linguísticos e sociais da criança, entendendo que é
um ser total, completo e indivisível.
Desta forma de ser, sentir, brincar,
expressar-se, relacionar-se, mover-se, organizar-se, cuidar-se, agir e
responsabilizar-se são partes do todo de cada indivíduo, menino ou
menina, que desde bebê vai gradual e articularmente aperfeiçoando estes
processos nos contatos consigo próprio, com as pessoas, coisas e o
ambiente em geral. Tudo isto deve acontecer num contexto em que cuidados
e educação se realizem de modo prazeroso, lúdico, onde as brincadeiras
espontâneas, o uso de materiais, os jogos, as danças e cantos, as
comidas e roupas, as múltiplas formas de comunicação, expressão, criação
e movimento, o exercício de tarefas rotineiras do cotidiano e as
experiências que exigem o conhecimento dos limites e alcances das ações
de crianças e adultos, estejam contemplados.
Percebe-se, no decorrer dos estudos
destas lições, que estamos num processo em construção em se tratando da
educação infantil, e que já observamos uma grande movimentação
conceitual em relação a proposta pedagógica no âmbito mais qualitativo.
Conforme observamos ao longo deste
curso, o trabalho escolar muitas vezes se restringe a buscar informações
concernentes a um determinado momento, atendendo a uma necessidade
imediata; caberia à escola e à sociedade, como um todo, a reflexão
permanentemente crítica e atualizada a respeito dos conceitos que se
tenta construir conjuntamente, com objetivos comuns e conteúdos
significativos para a formação integral do cidadão.
Partindo do princípio de que as creches,
pré-escolas e demais instituições de educação infantil colaboram para a
formação da cidadania, este curso pretende socializar a discussão sobre
as práticas pedagógicas nesta etapa da educação e sugerir ações
adequadas às necessidades educativas e de cuidados específicas das
crianças na faixa de zero a seis anos; não como um documento pronto e
acabado, mas aberto e flexível a novas incorporações pedagógicas e
educativas, de acordo com o contexto que está inserido a instituição de
Educação Infantil.
Pensar numa proposta para a educação
infantil dentro da atual conjuntura educacional acaba implicando a
construção de um novo olhar, um novo desafio para os que fazem parte
deste processo dinâmico que é a Educação.
Breve relato de uma experiência
Inicialmente
esta proposta sempre esteve inserida dentro dos novos paradigmas
educacionais e em sua gênese, já respeitava as diferenças e diversidades
culturais da clientela atendida; buscando no seu cotidiano educativo,
construir sua própria identidade valorizando as experiências e
conhecimentos prévios das crianças de 0-6 anos em todos os aspectos do
desenvolvimento infantil e no seu contexto social.
Cabe aqui relatar que no ano de 1992 (
anterior a LDB, RCNEI, DCNEI) o Programa da Secretaria do Menor em São
Paulo, já desenvolvia uma proposta pedagógica inovadora para o contexto
da educação infantil, respeitando a construção do saber elaborado,
subsidiando-se em autores conceituados todo o trabalho pedagógico
desenvolvido nas 22 creche/pré-escola do município de São Paulo, com uma
estrutura física adequada ao atendimento das crianças (130) por
instituição com 30 educadores, 1 coordenador pedagógico, 1 diretor, 1
técnica de enfermagem, funcionários da limpeza e funcionários da
cozinha, 2 seguranças, com profissionais graduados(30) do berçário ao
módulo azul (1).
Os princípios da ação educativa da
creche / pré-escola da Secretaria do Menor era orientada pelas seguintes
diretrizes na década de 90:
· a criança constrói e apropria –se do
conhecimento desde o seu nascimento, momento em que começa a entrar em
contato com as pessoas e as coisas;
· a criança deve ser encorajada a entrar em contato com o que lhe rodeia através da observação, exploração, experimentação;
· é necessário assegurar á criança a expressão livre e espontânea das vivências, sensações, pensamentos, idéias, sentimentos e descobertas;
· a singularidade de cada um- seu ritmo, seu jeito, suas manias – deve ser respeitadas nas suas expressões e necessidades;
· as brincadeiras e os jogos lúdicos são formas valiosas de expressão infantil, permitindo á criança o acesso ás atividades simbólicas;
· a criança deve ser encorajada a entrar em contato com o que lhe rodeia através da observação, exploração, experimentação;
· é necessário assegurar á criança a expressão livre e espontânea das vivências, sensações, pensamentos, idéias, sentimentos e descobertas;
· a singularidade de cada um- seu ritmo, seu jeito, suas manias – deve ser respeitadas nas suas expressões e necessidades;
· as brincadeiras e os jogos lúdicos são formas valiosas de expressão infantil, permitindo á criança o acesso ás atividades simbólicas;
· a creche/pré-escola é orientada pelo
princípio da continuidade: entre o equipamento e a família; entre a
creche e a pré-escola; entre a préescola e a educação de 1º grau;
· a ação educativa se processa de forma integrada conectando, na rotina, as atividades pedagógicas, de saúde e de alimentação;
· o educador deve cuidar para que o ambiente seja organizado, permitindo á criança vivências variadas interagindo com pessoas, objetos e situações, exprimindo-se de variadas formas;
· o educador deve trabalhar no sentido de assegurar a inserção da criança no grupo, possibilitando que experimente vivências grupais apoiadas no respeito, na solidariedade, na cooperação, considerando as diferenças individuais;
· o planejamento e a execução das atividades pedagógicas, de saúde e de alimentação são orientados pela intenção educativa levando em conta o prazer, o interesse, a motivação, a curiosidade, a imaginação próprios de cada idade e de cada criança na sua singularidade;
· o registro e o acompanhamento atento e criterioso da educação da criança constitui um instrumento imprescindível no trabalho dos educadores, pois permitem a realimentação e avaliação contínua da ação educativa.
· a ação educativa se processa de forma integrada conectando, na rotina, as atividades pedagógicas, de saúde e de alimentação;
· o educador deve cuidar para que o ambiente seja organizado, permitindo á criança vivências variadas interagindo com pessoas, objetos e situações, exprimindo-se de variadas formas;
· o educador deve trabalhar no sentido de assegurar a inserção da criança no grupo, possibilitando que experimente vivências grupais apoiadas no respeito, na solidariedade, na cooperação, considerando as diferenças individuais;
· o planejamento e a execução das atividades pedagógicas, de saúde e de alimentação são orientados pela intenção educativa levando em conta o prazer, o interesse, a motivação, a curiosidade, a imaginação próprios de cada idade e de cada criança na sua singularidade;
· o registro e o acompanhamento atento e criterioso da educação da criança constitui um instrumento imprescindível no trabalho dos educadores, pois permitem a realimentação e avaliação contínua da ação educativa.
Atualmente, não existe mais a Secretaria
do Menor, e as creches estão conveniadas em parcerias com algumas
empresas do Estado de São Paulo, que mantém as atividades pedagógicas e
as instalações físicas em sua gênese; mas sua proposta pedagógica é
citada e lembrada nos diversos trabalhos acadêmicos, inclusive na
referência bibliográfica do documento produzido pelo Ministério da
Educação - MEC (RCNEI, 1998.)
____
1- A faixa etária era dividida por cores: berçário (0-2); amarelo (2-3 anos); laranja(3-4 anos); vermelho (4-5anos);
verde(5-6anos) e azul (6-7anos)
verde(5-6anos) e azul (6-7anos)
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